Olhei pela janela e, entre grades, vi o azul do céu. Pela manhã, os pássaros cantam. E a vida segue, apesar de tudo. Nesse último ano, aprendemos da pior maneira que somos seres sociais, que não queremos e não podemos viver em isolamento. Assim, a convivência com amigos, familiares e até com estranhos, algo que parecia banal, passou a fazer uma falta imensa. E aí nos deparamos na prática com a frase dita geralmente por pessoas mais velhas, como nossos pais e avós: a gente só aprende a dar valor para alguma coisa quando a perdemos.
Sei que é extremamente difícil pedir positividade em um momento como este, mas talvez seja a hora de exercermos o clichê de valorizar as pequenas coisas. Vejo as pessoas retomando o hábito de caminhar pelas ruas do bairro ao invés de se enfurnarem em shoppings repletos de artificialidade. Outras buscando um contato maior com a natureza, em trilhas, a pé ou de bicicleta.
Pasmemos: até a emissão de gases poluentes diminuiu. De forma alguma quero dizer que isso faz a pandemia ser “boa” de alguma forma. Mas isso nos mostra o quanto estávamos no rumo errado: nos distanciando da natureza, degradando essa mesma natureza, nos distanciando das pessoas e destruindo nossas relações. O aumento da necessidade do uso de redes sociais nos mostrou o quanto desejaríamos não precisar delas para ter contato com quem amamos.
Além disso, os privilegiados, que puderam ficar em casa, tiveram que conviver mais com sua própria família (seja ela qual for) e entender melhor o espaço do lar. Descobrimos nesse momento o quanto desconhecíamos nosso próprio lar e os seres humanos (e caninos, felinos, etc.) que o habitam. E o quanto seria importante estarmos mais presentes. Por outro lado, o trabalho acabou invadindo esse espaço e, em alguns casos, tomando conta dele. E vimos que separar as coisas é muito necessário.
A pandemia vai passar, assim acreditamos e esperamos. Mesmo que demore, a vida será retomada. O que eu espero é que essa ideia de valorizar as pessoas e as pequenas coisas (principalmente as não materiais) só se fortaleçam. Falando nisso, encerro por aqui essa reflexão, pois o som encantador da gargalhada de minha filha me chama e parece dizer: “desliga o computador, mamãe, e vem ver meu sorriso aqui de pertinho”. É claro que eu vou.